Sábado, 10 de Abril de 2010

Quase

Um pouco mais de Sol eu era brasa...

um pouco mais de azul eu era além...

 

..................................................................

 

QUASE

 

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

 

Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,

 

Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,

 

Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...

 

Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto

 

Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

 

Mário de Sá Carneiro

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Para atingir, faltou-me um golpe de asa!


publicado por mokala às 15:54
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Quarta-feira, 7 de Abril de 2010

Areia

  

Areia

de Natércia Freire

 

Areia pisada,

areia dorida,

areia beijada,

areia batida,

areia doirada,

areia estendida,

areia rolada,

rolada na vida.

 

Frescura abraçada

ao mar que se vai,

e os braços crispados

pregados num ai.

E a areia rolada

nos olhos profundos,

e as matas de sombra

ao fundo dos mundos…

 

E o paço de pedra

Erguido no espaço

e as capelas tristes

que perco e abraço…

 

E o sonho do vento,

que gela e que deixa,

e a voz que ergo e calo

e é vida e é queixa…

 

Os degraus que subo

e são mais que cem,

e os cisnes vogando

nos lagos de além…

 

E as estradas brandas

onde correm fontes,

e as moças que sonham

sem verem os montes…

 

E os bancos abertos

aos corpos cansados,

e a chuva da tarde

nos parques molhados…

 

E os riscos de luz

que bordam o Céu,

e a cortina branca

que ao Sol me escondeu…

 

E os quartos alheios

que giram à roda,

e as vozes na estrada

que me tolhem toda…

 

E eu dentro de um sonho

suspensa e vibrante

- areia beijada num mar mais distante –

e rica e mais longa,

e presa e mais livre

- sem mal e sem vida…

 

Areia doirada,

areia estendida,

areia rolada,

rolada na vida!

(in Horizonte Fechado, 1942)


publicado por mokala às 23:00
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